
BREVE
ESTUDO CRÍTICO
DA NOVA ORDENAÇÃO DA MISSA

O Divino
Espírito Santo.
www.obradoespiritosanto.com
5 de junho de 1969
Um grupo de teólogos romanos.
Capítulo I.
Em outubro de 1967, foi pedido ao Sínodo de Bispos
que se reuniu em Roma para que emitisse um julgamento a
respeito de uma celebração experimental do que foi
chamado à época de uma Missa “padrão” ou “normativa”.
Esta Missa, composta pelo Comitê para a Implementação das
Constituições sobre a Sagrada Liturgia (Consilium),
provocou sérios receios entre os bispos presentes.
Com 187 membros votando, os resultados revelaram uma
considerável oposição (43 votos negativos), muitas reservas
substanciais (62 votos afirmativos com reservas) e quatro
abstenções. A imprensa internacional falou da
“rejeição” do Sínodo à Missa proposta, enquanto a
ala progressista da imprensa religiosa perpassou o evento em
silêncio. Um conhecido periódico dirigido aos bispos, e
que expressa seus ensinamentos, resumiu o novo rito nestes
termos:
“Quiseram passar uma esponja em toda a teologia da Missa.
Terminou como algo muito próximo da teologia protestante que
destruiu o sacrifício da Missa.”
Infelizmente nós descobrimos agora que a mesma
“Missa padrão”, idêntica em substância, reapareceu na forma
da Nova Ordenação da Missa (Novus Ordo
Missae) recentemente promulgada pela Constituição
Apostólica Missale Romanun (3 de abril de 1969). Além disso,
nos dois anos que se passaram desde o sínodo, as conferência
episcopais (ao menos como tais) aparentemente não foi
consultada sobre a matéria.
A Constituição Apostólica Missale Romanum
declara que o antigo Missal que São Pio V promulgou em 19
de julho de 1570 (Bula Quo Primum) – a sua maior
parte, na verdade, remonta a São Gregório Magno
e à antigüidade ainda mais remota (*1) – foi o padrão por
quatro séculos sempre que os padres do Rito Latino
celebravam o Santo Sacrifício. A Constituição acrescenta que
este Missal, levado a todos os cantos da Terra, “tem
sido uma abundante fonte de nutrição espiritual para tantas
pessoas em sua devoção a Deus”. Mas esta mesma
Constituição, que poria fim definitivamente ao uso do
antigo Missal, afirma que a presente reforma tornou-se
necessária desde que: “um profundo interesse em fomentar
a liturgia disseminou-se e fortaleceu-se entre o povo
cristão.”
Parece que esta última afirmação, com toda evidencia, contém
um sério equívoco.
Se o povo cristão expressou algo, foi sim o desejo
(graças ao grande Papa São Pio X) de descobrir os
verdadeiros e imortais tesouros da liturgia. Ele
nunca, absolutamente nunca, pediu para que a liturgia
fosse alterada ou mutilada a fim de ser mais facilmente
compreensível. O que os fiéis queriam era um melhor
entendimento da única e inalterável liturgia –
uma liturgia que eles não desejavam ver modificada.
Católicos por todas partes, bem como padres e leigos, amavam
e veneravam o Missal Romano de São Pio V. É
impossível compreender como a utilização deste missal, em
conjunto com a instrução religiosa adequada, poderia impedir
os fiéis de participar da liturgia de forma mais plena ou de
entendê-la de forma mais profunda.
É igualmente incompreensível por que o antigo Missal, quando
seus formidáveis méritos são reconhecidos, até pela
Constituição Missale Romanum, deva agora ser
considerado indigno de continuar a alimentar a piedade
litúrgica dos fiéis.
Já que a “Missa Padrão”, agora reintroduzida e
novamente imposta na forma da Nova Ordenação da Missa, já
havia sido rejeitada em substância no Sínodo; já que ela
nunca foi submetida ao julgamento do colegiado das
conferências episcopais e já que os fiéis nunca pediram
qualquer reforma que seja da Missa, é impossível
compreender as razões para a nova legislação – legislação
que subverte uma tradição intocada na Igreja desde os
séculos IV ou V, como o reconhece a própria Constituição
Missale Romanum.
Portanto, uma vez que não há razões para empreender a
reforma, esta parece privada de quaisquer bases racionais
para justificá-la e torná-la aceitável ao povo católico.
O Concílio Vaticano II,
de fato, pediu que a Ordem da Missa “fosse revista de uma
forma que exponha mais claramente a natureza intrínseca e a
finalidade de suas diversas partes, bem como a conexão entre
elas”. (*2)
Nós veremos agora em que medida a Ordenação recém
promulgada responde aos desejos do Concílio – desejos dos
quais pode-se dizer que não fica nem a menor lembrança.
Um
exame ponto por ponto da Novus Ordo revela mudanças
tão importantes, que confirmam o julgamento já feito
sobre a “Missa Padrão”. O novo “Ordo Missae”, assim
como a “missa normativa”, pode satisfazer em muitos pontos o
mais modernista dos protestantes.
Capítulo II
Comecemos com a definição da Missa.
No artigo 7 da Instrução Geral que precede a Nova Ordenação
da Missa, sob o titulo “A estrutura da Missa”,
encontramos a seguinte definição:
A Ceia dominical é a assembléia sagrada ou congregação do
povo de Deus, reunindo-se sob a presidência do sacerdote,
para celebrar a memória de Nosso Senhor
(*3). Por esta razão, a promessa de Cristo se aplica de
forma suprema para uma reunião local da Igreja: “Onde dois
ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio
deles.” (Mt. 18:20) (*4)
Desta forma, a definição da Missa é reduzida
a uma “ceia”, um termo que a Instrução Geral repete
constantemente (nos números 8, 48, 55, 56 da Institutio).
A Instrução mais adiante caracteriza esta “ceia” como uma
assembléia, presidida por um padre e celebrada como o
“memorial do Senhor” para recordar o que Ele fez na
quinta-feira Santa.
Nada disso implica por mais mínimo que seja nem a
Presença Real, nem a realidade do Sacrifício, nem a função
sacramental do padre que consagra, nem o valor intrínseco do
Sacrifício Eucarístico, independente da presença da
“assembléia” (*6)
Em
uma palavra, a definição dada pela Instrução não
implica nenhum dos valores dogmáticos que são essenciais à
Missa e os quais, tomados em conjunto, fornecem a
sua verdadeira definição. A omissão, num tal lugar,
desses dados dogmáticos, não pode ser senão
voluntária. Semelhante omissão voluntária significa que
já se consideram como obsoletos, e equivale, ao menos na
prática, a negá-los. (*7)
A segunda parte do artigo 7 torna ainda pior este já sério
equívoco.
Ela afirma que se aplica de forma suprema a esta assembléia
a promessa de Cristo: “Onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”.
Assim, a Instrução coloca a promessa de Cristo - que se
refere somente à Sua presença espiritual através da graça
-, no mesmo nível qualitativo, - a não ser por uma maior
intensidade -, da Sua presença real, física e
substancial, própria ao Sacramento da Eucaristia.
O próximo artigo da Instrução divide a Missa em uma
“Liturgia da Palavra” e uma “Liturgia da
Eucaristia”, e acrescenta que a “mesa da
Palavra de Deus” e a “mesa do Corpo de Cristo”
são preparadas na Missa para que os fiéis possam receber “instrução
e alimento”. Como veremos mais tarde, esta afirmação
une de forma imprópria e ilegítima as
duas partes da Missa, como se elas possuíssem o mesmo valor
simbólico.
A Instrução, que constitui a introdução do novo Ordo
da Missa, usa muitos nomes diferentes para a Missa,
tais como:
- Ação de Cristo e do Povo de Deus.
- Comunhão do Senhor ou Missa
- Banquete Pascal
- Participação Comum na Mesa do Senhor
- Prece Eucarística
- Liturgia da Palavra e Liturgia da Eucaristia
- Etc.
Todas estas expressões são aceitáveis quando usadas
relativamente, mas quando usadas separadamente e de forma
absoluta, como o são aqui, elas devem ser completamente
rejeitadas.
É óbvio que a Novus Ordo enfatiza obsessivamente
“ceia” e “memória”, ao invés da renovação (não sangrenta) do
Sacrifício da Cruz. Mesmo a frase que na Instrução
descreve a Missa como “o memorial da Paixão e Ressurreição”,
é inexata.
A Missa é o memorial do único sacrifício,
redentor em si mesmo, enquanto que a Ressurreição é o fruto
que se segue deste sacrifício (*8). Veremos mais
tarde como, - e com que coerência sistemática -, tais
equívocos são repetidos e reiterados, tanto na fórmula para
a consagração quanto através da Novus Ordo como um todo.
Capítulo III.
Voltamo-nos agora para os fins (propósitos) da Missa:
o seu fim último, o seu fim próximo e o seu
fim imanente.
1. Propósito último.
O propósito último da Missa é o sacrifício de graças dado à
Santíssima Trindade.
Este fim está em conformidade com o propósito primário da
Encarnação, explicitamente enunciado pelo próprio Cristo:
"Ao entrar no mundo ele afirmou: Tu não quiseste
sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo.”
(*9)
No Novus Ordo este propósito desapareceu:
-
Do ofertório, de onde a oração “Recebe, Santa
Trindade, esta oblação” (ou “Recebe Santo
Padre”) foi removida.
-
Da conclusão da Missa, onde a oração em honra da Trindade,
“Agradável Vos seja, ó Trindade Santíssima, a oferta
da minha vassalagem” foi eliminada.
-
Do prefácio, já que o prefácio da Santíssima Trindade,
anteriormente usado em todos os domingos depois da
Epifania e do Pentecostes (ou seja, mais de 30 domingos
cada ano), será daqui em diante usado somente na Festa da
Santíssima Trindade.
2. Propósito ordinário.
O propósito ordinário da Missa é o sacrifício propiciatório
— dando satisfações a Deus pelo pecado. Este
fim foi também comprometido. Ao invés de enfatizar a
remissão dos pecados dos vivos e dos mortos, o novo
rito enfatiza o alimento e santificação dos presentes (*10).
Na última ceia, Cristo instituiu o Santo Sacramento e desta
forma colocou-Se nele como Vítima, a fim de unir-Se a
nós como Vítima. Mas este ato de imolação sacrifical
ocorre antes do Santo Sacramento estar consumado e possui de
antemão pleno valor redentor em relação ao Sacrifício
sangrento no Calvário. A prova disto é que as pessoas que
assistem não estão obrigadas a receber a Comunhão
sacramentalmente (*11).
3. Propósito imanente.
O propósito imanente da Missa é fundamentalmente o
sacrifício.
É essencial que o sacrifício, qualquer que seja sua
natureza, seja agradável a Deus e aceito por Ele.
Por causa do pecado original, entretanto,
nenhum outro sacrifício que não seja o de Cristo pode
pretender ser aceitável e agradável a Deus por direito
próprio. Por esta razão, era eminentemente
conveniente o Ofertório se referir desde o começo o
Sacrifício da Missa ao Sacrifício de Cristo.
O Novus Ordo
altera a natureza do ofertório sacrifical transformando-o em
uma espécie de troca de oferendas entre o homem e Deus.
O homem traz o pão e Deus o transforma no “pão da vida”;
o homem traz o vinho e Deus o transforma na “bebida
espiritual”:
"Bendito, sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão (ou
vinho) que recebemos de vossa bondade, fruto da terra (ou da
videira) e do trabalho do homem, que hoje vos apresentamos e
que para nós vai se tornar o pão da vida (ou bebida
espiritual: o vinho da salvação)."
(*12)
As expressões “pão da vida” e “bebida
espiritual”, são, é claro, completamente vagas e
podem significar qualquer coisa. Novamente nós nos deparamos
com o mesmo equívoco básico: De acordo com a nova definição
da Missa, Cristo está presente entre os seus apenas
espiritualmente; aqui, o pão e o vinho são apenas
espiritualmente - e não substancialmente –
modificados (*13).
Na Preparação das Oferendas
um jogo similar de equívocos foi cometido. O antigo
Ofertório continha duas magníficas orações, a “Deus
qui humanae ...” e a “Offerimus tibi...”:
-
A primeira oração,
recitada na preparação do cálice, começa da seguinte forma:
“Ó Deus, que maravilhosamente criastes a dignidade da
natureza humana e mais prodigiosamente a remitistes.”
Ela lembrava a inocência do homem antes da queda de
Adão e seu resgate pelo
sangue de Cristo;
ela resumia toda a economia do Sacrifício, de Adão até os
dias de hoje.
-
A segunda oração,
que acompanha o oferecimento do cálice, incorpora a
idéia de propiciação pelo pecado: ela implora a Deus
por Sua misericórdia quando pede que a oferenda suba “com
uma doce fragrância” na presença da divina Majestade,
cuja clemência se implora. Como a primeira oração,
esta última enfatiza admiravelmente a economia do
Sacrifício.
No Novus Ordo ambas as orações foram
eliminadas. Além disso, as repetidas petições
a Deus para que Ele aceite o Sacrifício, contidas nas Preces
Eucarísticas, foram também suprimidas; desta
forma não há mais qualquer distinção clara entre o
sacrifício humano e o divino.
Tendo removido a pedra fundamental,
os reformadores tiveram de colocar em seu lugar uma
carcaça. Tendo suprimido os verdadeiros
propósitos da Missa, tiveram de substituí-los por
seus próprios propósitos fictícios. Isto os
forçou a introduzir ações enfatizando a união entre o
padre e o fiel, ou entre os próprios fiéis
– e levou à ridícula tentativa de superpor as
oferendas aos pobres e pela Igreja à oferenda
da hóstia para ser imolada. A singularidade
fundamental da Vítima a ser sacrificada será então
completamente obliterada. A participação na imolação de
Cristo, a Vítima, transformar-se-á então em um
encontro filantrópico ou um banquete de caridade.
Capítulo IV.
Consideramos agora a essência do Sacrifício.
A Nova Ordenação da Missa não expressa mais de maneira
explicita o mistério da Cruz. Ele é obscurecido, velado, e
tornado impercebível aos fiéis por meio de múltiplos
artifícios
(*14).
Eis alguns dos principais:
1. O significado do termo “oração eucarística”.
A Institutio (No 54, in fine) declara: “O significado da
oração eucarística consiste em que a congregação toda se
una a Cristo para reconhecer as grandes coisas que Deus fez
e oferecer o sacrifício” (*15).
A que sacrifício isto se refere? Quem oferece
o sacrifício? Estas perguntas não são respondidas.
A definição que a Instrução (No 54) dá para a “Prece
Eucarística” a reduz ao seguinte:
“O centro e o ponto mais alto de toda a celebração se
inicia: A Prece Eucarística, ou prece de ação de graças e
santificação”
(*16)
Assim, os efeitos da prece tomam o lugar
da causa [a ação de graças e a santificação
tomam o lugar do sacrifício]. E sobre a causa,
além disso, nem uma palavra é dita. A menção
explícita do propósito da oferta sacrifical, feita no rito
antigo com a oração: “Receba, Santíssima
Trindade, esta oblação”, foi suprimida — e substituída
por nada.
A mudança na fórmula revela a mudança na doutrina.
2. Obliteração do papel da presença real.
A razão pela qual o Sacrifício não é mais mencionado
explicitamente é simples: o papel central da
Presença Real foi suprimido. Ele foi removido
do lugar que ocupava tão magnificamente na antiga liturgia.
Na Instrução Geral a Presença Real é
mencionada somente uma vez, e isto em uma nota de
rodapé que é a única referência ao Concílio de Trento.
Aqui novamente o contexto é o de alimentação.
(*17)
Nunca é feita nenhuma alusão à presença real e
permanente de Cristo nas
espécies transubstanciadas, Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
A própria palavra
transubstanciação
é completamente ignorada.
A invocação do Espírito Santo no Ofertório
– a oração “Vinde, ó Deus Santificador” – foi
igualmente suprimida, com sua petição para que Ele descesse
sobre a oferenda para realizar novamente o milagre da
Presença Divina, exatamente como Ele uma vez desceu sobre o
útero da Virgem. Esta supressão é mais uma em
uma série de negações e degradações da
Presença Real, tácitas e sistemáticas.
Finalmente, é impossível ignorar como os gestos e costumes
rituais que expressam a fé na presença real foram abolidos
ou modificados.
A Novus Ordo elimina:
- As genuflexões.
Não mais do que três permanecem para o padre, e (com certas
exceções) uma para os fiéis no momento da Consagração.
- A purificação dos dedos
do padre sobre o cálice.
- A preservação dos dedos do padre
de todo o contato profano após a consagração.
- A purificação dos recipientes sagrados,
que não precisa ser feita imediatamente e nem feita no
corpo.
- A proteção do conteúdo do cálice
com a coberta do cálice.
- O dourado no interior dos recipientes sagrados.
- A consagração solene para altares móveis.
- As pedras consagradas e relíquias dos santos no altar
móvel
ou na “mesa” quando a Missa é celebrada fora de um lugar
sagrado. (Este último ponto leva diretamente a “jantares
eucarísticos” em casas particulares).
- As três toalhas no altar,
reduzidas para uma.
- A ação de Graças para a Eucaristia feita ajoelhada,
agora substituída pela grotesca prática do padre e do povo
sentando-se para fazer a ação de graças – um acompanhamento
bastante lógico para o ato de receber a comunhão em
pé.
- Todas as antigas prescrições a serem observadas no caso de
uma hóstia que caía no chão,
as quais agora se reduzem a uma única e quase sarcástica
instrução: “Ela deve ser recolhida de forma reverente”. (18)
Todas estas supressões somente enfatizam a maneira
ultrajante que a fé no dogma da Presença Real é
implicitamente repudiada.
3. O papel do altar principal
- O altar é quase sempre chamado de mesa:
(*19), “...o altar ou a mesa do Senhor que é o centro
de toda a liturgia eucarística...” (*20)
- O altar deve agora estar destacado da parede dos fundos
para que o padre possa andar em torno dele e celebrar a
missa de frente para o povo.
(*21)
A Instrução afirma que o altar deve estar no centro dos
fiéis reunidos, a fim de que sua atenção seja
espontaneamente atraída para ele.
Comparando este artigo com outro, entretanto, ele
parece excluir totalmente a reserva do Santo Sacramento no
altar onde a Missa é celebrada. (*22) Isto
assinalará uma irreparável dicotomia entre a presença
de Cristo como Sumo Sacerdote no padre celebrando a Missa e
a presença sacramental de Cristo. Antes, elas
eram uma única coisa. (*23)
A Instrução recomenda que o Santo Sacramento agora
seja mantido em um lugar em separado para a devoção
particular, como se Ele fosse uma espécie de
relíquia. Desta forma, ao entrar em uma Igreja, a
atenção das pessoas será atraída não para um sacrário,
mas sim para uma mesa vazia. Uma vez mais,
piedade particular é colocada em oposição à piedade
litúrgica, e o altar é colocado em oposição ao
Altar.
A Instrução recomenda que as hóstias distribuídas
para a Comunhão sejam aquelas consagradas na mesma
Missa. Ela também recomenda que se consagre uma
grande hóstia, (*24) a fim de que o padre possa dividir uma
parte dela com os fiéis.
Trata-se sempre da mesma atitude aviltante tanto
para com o Sacrário quanto para qualquer forma de
piedade Eucarística fora da Missa. Isto
constitui um novo e violento golpe contra a fé
no fato de que a Presença Real continua
enquanto subsistem as espécies consagradas. (*25)
4. As fórmulas para a consagração.
A antiga fórmula para a Consagração era uma fórmula
“sacramental” propriamente falando,
e não meramente uma “narrativa”. Isto foi demonstrado
anteriormente por três coisas:
- O Texto Empregado.
O texto da Escritura não foi usado palavra por palavra
tal como na fórmula para a consagração no antigo Missal.
A expressão de São Paulo, o “Mistério da Fé”,
foi inserida no texto como uma expressão imediata da fé do
padre no mistério que a Igreja torna real através do
sacerdócio hierárquico.
- Tipografia e Pontuação.
No antigo Missal, um ponto final e um novo parágrafo
separavam as palavras “Tomai isto e comei” das
palavras da forma sacramental,
“Este é Meu Corpo.”
O ponto final e o novo parágrafo marcavam a passagem
de um modo meramente “narrativo” para um modo “sacramental”
e “afirmativo” que é próprio de uma ação verdadeiramente
sacramental. Além do mais, no Missal Romano as
palavras da Consagração eram impressas em tipos maiores e no
centro da página. Freqüentemente uma tinta de cor
diferente era usada. Tudo isto destacava claramente as
palavras de um contexto meramente histórico, e, em conjunto,
davam à fórmula da Consagração um valor próprio e autônomo.
- A Anamnese.
O Missal Romano
acrescentou as palavras “Todas as vezes que fizerdes
estas coisas, fazei-as em memória de Mim” depois da
fórmula da Consagração. Esta fórmula referia-se não somente
à lembrança de Cristo ou de algum evento passado, mas
sim à ação de Cristo aqui e agora.
Tratava-se de um convite para que nos lembremos não somente
de Sua Pessoa ou da Santa Ceia, mas também para que
“façamos” o que Ele fez “da maneira” que Ele fez.
Na Novus Ordo, as palavras de São Paulo, "Fazei isto
em memória de Mim," substituirão agora a antiga
fórmula e serão proclamadas diariamente em vernáculo por
toda a parte. Isto inevitavelmente fará os ouvinte
concentrarem-se na lembrança de Cristo como o fim da ação
Eucarística, ao invés de como seu início.
A idéia de comemoração irá portanto tomar o
lugar rapidamente da idéia da Missa como uma ação
Sacramental. (*26)
A Instrução Geral enfatiza o modo narrativo
mais adiante quando descreve a Consagração como a “Instituição
Narrativa” (*27) e quando acrescenta que “em
cumprimento à ordem dada por Cristo... a Igreja guarda sua
memória.” (*28)
Tudo isto, em resumo, altera o modus
significandi das palavras da Consagração –
como elas mostram a ação sacramental ocorrendo.
O padre agora pronuncia as fórmulas para a Consagração
como parte de uma narrativa histórica, ao
invés de como o representante de Cristo emitindo o
julgamento afirmativo “Este é Meu Corpo.” (*29)
Além disso, a aclamação memorial do povo que
segue-se imediatamente à Consagração "Vossa santa
morte nós proclamamos, Ó Senhor... até a Vossa vinda”
– introduz a mesma ambigüidade sobre a Presença Real sob a
forma de um alusão ao Julgamento Final. Quase sem
pausa, o povo proclama sua expectativa por Cristo no fim dos
tempos no exato momento em que Ele está substancialmente
presente no altar – como se a vinda real de Cristo fosse
ocorrer somente no final dos tempos, ao invés de lá mesmo no
próprio altar.
A Segunda aclamação memorial opcional apresenta
isto ainda mais forte: “Quando nós comemos este pão e
bebemos deste cálice, nós proclamamos Vossa morte, Senhor
Jesus, até Vossa vinda em glória.” A justaposição de
duas realidades completamente diferentes — imolação e
refeição, a Presença Real e a Segunda Vinda de Cristo —
eleva a ambigüidade a novas alturas. (*30)
Capítulo V.
Consideramos agora a questão de quem realiza o Sacrifício.
No rito antigo eram, em ordem: Cristo, o
padre, a Igreja e os fiéis.
1. O papel dos fiéis no Novo Rito.
Na Missa Nova, o papel atribuído aos fiéis é autônomo,
absoluto – e portanto completamente falso.
Isto é óbvio não apenas a partir da nova definição da Missa
(“... a assembléia sagrada ou congregação do povo
reunido...”), mas também a partir da definição dada pela
Instrução Geral de que a saudação de abertura do padre
destina-se a levar à assembléia reunida a presença do Senhor:
Então através de sua saudação o padre declara à assembléia
reunida que o Senhor está presente.
Esta saudação e resposta expressam o mistério da Igreja
reunida. (*31)
Esta é a verdadeira presença de Cristo?
Sim, mas somente uma presença espiritual. Um mistério
da Igreja? Certamente – mas somente na medida em que
a assembléia manifesta-se e pede pela presença de Cristo.
Esta noção é enfatizada repetidamente por:
- Referências obsessivas
ao caráter comunitário da Missa. (*32)
- A distinção não mencionada
entre “Missa com a Congregação” e “Missa
sem a Congregação”. (*33)
- A descrição da Prece dos Fiéis
como uma parte da Missa onde “o povo, exercendo sua
função sacerdotal, intercede por toda a humanidade.”
(*34)
A “função sacerdotal dos fiéis” é apresentada
equivocadamente como se ela fosse autônoma,
omitindo-se a menção de que ela é subordinada ao padre,
que, como mediador consagrado, apresenta as petições do povo
a Deus durante o cânone da missa.
A Prece Eucarística III da Novus Ordo
dirige as seguintes orações ao Senhor:
“De eras em eras Vós reunis o povo contigo, para que de
leste a oeste uma oferenda perfeita possa ser oferecida à
glória de Vosso nome”.
O “para que” na passagem faz
parecer que o povo, e não o padre é o elemento indispensável
na celebração. Uma vez que nunca é deixado claro,
mesmo aqui, quem oferece o sacrifício, o próprio povo
aparece como possuindo um poder sacerdotal autônomo.
(*35)
A partir deste passo, não seria surpreendente se, dentro em
pouco, fosse permitido ao povo unir-se ao padre para
pronunciar as palavras da consagração. De fato, em
alguns lugares isto já aconteceu.
2. O papel do padre no Novo Rito.
O papel do padre é minimizado, alterado e falsificado:
- Em relação ao povo,
ele é agora um mero presidente ou irmão,
ao invés do ministro consagrado que celebra a Missa “na
pessoa de Cristo.”
- Em relação à Igreja,
o padre é agora meramente um membro dentre outros,
alguém retirado do povo. Ao tratar da invocação do Espírito
Santo na Oração Eucarística (a epiclesis), a Instrução Geral
atribui as petições anonimamente à Igreja. (*36) O papel do
padre desvaneceu-se.
- No novo Rito de Penitência que inicia a Missa,
o Confiteor tornou-se agora coletivo; assim o
padre não é mais juiz, testemunha e intercessor perante
Deus. É, portanto, lógico que ele não mais recite a
oração de absolvição que se seguia e que foi agora suprimida.
O padre está agora “integrado” com seus irmãos; mesmo o
acólito que serve em uma “Missa sem congregação” chama o
padre de “irmão”.
- Anteriormente, a Comunhão do padre era ritualmente
distinta da Comunhão do povo.
A Novus Ordo suprime esta distinção
importante. Este era o momento em que Cristo, o Eterno Sumo
Sacerdote, e o padre que atua na pessoa de Cristo
encontravam-se em estreita união e completavam o Sacrifício.
- Além disso, nenhuma palavra é dita sobre o poder do padre
como “sacrificador”,
sobre sua ação consagratória ou sobre como, na função de
intermediário, ele realiza a presença Eucarística. Ele
agora não parece ser nada além de um ministro protestante.
- Abolindo ou tornando opcionais muitas das vestimentas
sacerdotais
– em alguns casos somente uma alva e uma estola são
exigidas. (*37) – o novo rito oblitera mais ainda a
conformidade do padre com Cristo. O padre não é mais
vestido com as virtudes de Cristo. Ele é agora
apenas um “graduado” com um ou dois emblemas que mal o
separam da multidão. (*38) "um pouco mais homem do que
o resto," para citar uma definição involuntariamente
cômica de um Dominicano. (*39) Aqui, como quando colocaram
altar contra altar, os reformadores separaram o que
estava unido: o Sacerdócio de Cristo do Verbo
de Deus.
3. O papel da Igreja no Novo Rito.
Finalmente, há a posição da Igreja em relação a Cristo. Em
somente um exemplo. – em seu tratamento da forma da Missa
sem uma congregação – a Instrução Geral admite que a Missa é
“a ação de Cristo e da Igreja.” (*40) No caso
da Missa com uma congregação, entretanto, o único objeto que
a Instrução alude como “lembrança de Cristo” e
santificando os presentes. "O padre celebrante”, diz
ela, "...une-se ao povo ao oferecer o sacrifício através
de Cristo no Espírito ao Pai” – ao invés de dizer
que o próprio povo se une a Cristo que Se oferece ao Pai
através do Espírito Santo.
Dentro
deste contexto, os seguintes pontos também devem ser
considerados:
- As diversas omissões graves da frase
“através de Cristo nosso Senhor”, uma fórmula
que garante que Deus ouvirá as preces da Igreja em todos os
tempos. (*42)
- Um “pascalismo” que a tudo penetra
– uma ênfase obsessiva na Páscoa e na Ressurreição – quase
como se não houvesse outros aspectos da comunicação da
graça, os quais, ainda que um tanto diferentes, são
igualmente importantes.
- O estranho e dúbio “escatologismo”
– uma ênfase sobre a Segunda Vinda de Cristo e o fim dos
tempos – por meio do qual a permanente e eterna realidade da
comunicação da graça é reduzida a algo restrito aos limites
do tempo. Nós ouvimos falar de um povo de Deus em marcha,
uma Igreja peregrina – uma Igreja não mais Militante
contra as forças das trevas, mas uma Igreja que,
tendo perdido seu vínculos com a eternidade, marcha para um
futuro divisado em termos puramente temporais.
Na Oração
Eucarística IV
a Igreja (como Una, Santa e Apostólica) é degradada pela
eliminação da petição do Cânone Romano por todos os
fiéis ortodoxos que mantêm a fé Católica e Apostólica.
Estes são agora meramente todos os que a buscam com
sinceridade de coração.
A Recordação dos Mortos
no cânon é oferecido não como antes, para aqueles que
se foram antes de nós com o signo da fé, mas
meramente para aqueles que se foram na paz de Cristo. A
este grupo – com o posterior detrimento da noção da unidade
e visibilidade da Igreja – a Oração Eucarística IV
acrescenta a grande multidão de “todos os mortos cuja
fé é conhecida por Vós somente.”
Além disto, nenhuma das três novas Orações
Eucarísticas faz alusão a um estado de sofrimento por
aqueles que morreram; nenhuma delas permite ao padre
fazer lembranças especiais pelos mortos. Tudo isso
necessariamente enfraquece a fé na natureza propiciatória e
redentória do sacrifício. (*43) Por toda a parte
omissões dessacralizadoras aviltam o mistério da Igreja.
Acima de tudo, a natureza da Igreja como uma
hierarquia sagrada é desconsiderada. A segunda parte
do novo Confiteor coletivo reduz os Anjos e os Santos ao
anonimato na primeira parte, na pessoa de São Miguel Arcanjo
eles desapareceram como testemunhas e juízes. (*44)
No prefácio da Oração Eucarística II
– e isto não possui precedentes – as várias
hierarquias angélicas desapareceram. Também foi
suprimida, da terceira prece do antigo Cânone, a
memória dos santos Pontífices e Mártires sobre quem a Igreja
de Roma foi fundada; sem dúvida, foram estes
os santos que transmitiram a tradição apostólica finalmente
completa sob o Papa São Gregório como a Missa Romana.
A oração após o Pai Nosso, a Libera Nos,
agora suprime a menção da Santa Virgem, dos Santos
Apóstolos e de todos os santos; sua intercessão não
é mais pedida, nem mesmo em tempos de perigo.
Por toda a parte, exceto no Cânone Romano, a
Novus Ordo elimina não somente os nomes dos
Apóstolos Pedro e Paulo, fundadores da Igreja em Roma, mas
também os nomes dos outros apóstolos, a fundação e marco da
Igreja única e universal. Esta omissão intolerável,
que se estende até mesmo às três novas Orações Eucarísticas,
compromete a unidade da Igreja.
A Nova Ordenação da Missa
ataca mais adiante o dogma da Comunhão dos Santos
através da supressão da benção e saudação “O
Senhor esteja convosco” quando o padre reza a
missa sem um coroinha. Ela também elimina a Ite
Missa Est, mesmo quando a Missa é celebrada com um coroinha.
(*45)
O duplo Confiteor no início da Missa
mostrava o quanto o padre, vestido como o ministro de Cristo
e fazendo uma profunda reverência, reconhecia-se como
indigno tanto da sublime missão quanto do “tremendo
mistério” que ele iria representar. Então, na oração
“Perdoai os nossos pecados” ele reconhecia
esta indignidade para entrar no Santo dos Santos,
recomendando a si próprio com a oração “Nós Lhe
Rogamos, Ó Senhor” aos méritos e à intercessão dos mártires
cujas relíquias estavam guardadas no altar. Ambas as
orações foram suprimidas. O que foi dito anteriormente sobre
a eliminação do duplo Confiteor do rito da Comunhão é
igualmente relevante aqui.
A configuração exterior do sacrifício, um
sinal de seu caráter sagrado, foi profanada.
Observe-se, por exemplo, as novas provisões para a
celebração da Missa fora de uma Igreja: a uma simples
mesa, sem um altar-pedra consagrado nem
relíquias e coberta com um único pano, é
permitido servir de altar. (*46) Aqui também se
aplica tudo o que dissemos anteriormente com relação à
Presença Real – dissociação do “banquete” e do Sacrifício
da ceia da Presença Real em si mesma.
O processo de dessacralização é
completado graças ao novo e grotesco procedimento para a
Procissão do Ofertório, a referência a pão
ordinário (ao invés de sem fermento), a permissão aos
coroinhas (e mesmo aos leigos quando do recebimento da
Comunhão sob ambas as espécies) de manusear os
recipientes sagrados. (*47)
Em seguida há a atmosfera de distração criada na Igreja:
as intermináveis indas e vindas dos padres, diáconos,
subdiáconos, cantores, comentadores – o próprio padre
torna-se um comentador, constantemente encorajado a
“explicar” o que vai fazer –
Leitores (homens e mulheres), de coroinhas ou leigos
dando boas vindas às pessoas na porta e
conduzindo-as a seus lugares enquanto outros carregam e
selecionam oferendas.
E numa era de frenesi por um “retorno às escrituras”
nós agora encontramos, em contradição tanto com o Velho
Testamento quanto com São Paulo, a presença de “mulheres
apropriadas” que pela primeira vez na história
da Igreja são autorizadas a proclamar as leituras da
Escritura e “executar outros ministérios fora do
santuário”. (*48)
Finalmente, há a mania da concelebração,
que virá a destruir a piedade eucarística do padre pelo
obscurecimento da figura central de Cristo, único
sacerdote e Vítima, e por sua dissolução na presença
coletiva dos concelebrantes. (*49)
Capítulo VI.
Nós
nos limitamos acima a um breve estudo da Novus Ordo onde ela
se desvia de forma mais séria da teologia da Missa
Católica. Nossas observações versam sobre
desvios que são típicos.
Preparar um estudo completo de todas as armadilhas,
perigos e elementos psicológica e espiritualmente
destrutivos que o novo rito contém, seja no texto,
nas rubricas ou nas instruções, seria um empreendimento
vasto. Passamos apenas de relance pelas três novas Orações
Eucarísticas, uma vez que elas já se apresentaram a
repetidas e abalizadas críticas.
A segunda causou escândalo imediato entre os fiéis devido à
sua brevidade. (*50) Da Oração Eucarística II
bem se disse que um padre que não acreditasse nem na
Transubstanciação
nem no caráter sacrificial da Missa poderia recitá-la com
a consciência perfeitamente tranqüila,
e que, além disso, um ministro protestante também poderia
usá-la em sua própria celebração.
O novo missal foi apresentado em Roma
como “uma fonte abundante para o trabalho pastoral”,
como “um texto mais pastoral do que jurídico”,
que a conferência nacional dos bispos poderia adaptar ao
“espírito” de diferentes povos. Além disso, a Seção Um da
Nova Congregação para o Culto Divino será agora responsável
“pela publicação e constante revisão dos livros litúrgicos.”
Esta idéia foi ecoada recentemente no boletim oficial dos
Institutos Litúrgicos da Alemanha, Suíça e Áustria:
- Os textos latinos
devem ser agora traduzidos para as línguas das diversas
nações.
- O “estilo romano”
deve ser adaptado à individualidade de cada Igreja local.
- Aquilo que foi concebido em um plano atemporal
deve agora ser transposto no contexto cambiável das
situações concretas, e no fluxo constante da Igreja
universal e sua miríade de congregações. (*51)
A própria Constituição Apostólica, com a promulgação da
Novus Ordo Missae, desfere um golpe mortal na língua
universal da Igreja
quando – contrariando um desejo expresso do Concílio
Vaticano II – afirma inequivocamente que “em grande
diversidade de línguas, uma [?] única prece ascenderá mais
perfumada do que o incenso.”
O fim do latim pode, portanto, ser dado como
certo, o Canto Gregoriano — que o Vaticano II
reconheceu como uma característica distintiva da liturgia
romana, decretando que a ele “fosse dado um lugar de
honra nos serviços litúrgicos” (*52) — irá logicamente
seguir este caminho, dada, entre outras coisas, a liberdade
conferida na escolha dos textos para o Intróito e para o
Gradual.
Desde o princípio, portanto, o novo rito foi pluralista e
experimental,
ligado a um tempo e lugar. Uma vez que a unidade de culto
foi estilhaçada de uma vez por todas, que base
existirá para a unidade da fé que a acompanhava e
que, fomos informados, seria sempre defendida sem
compromisso?
É óbvio que a Nova Ordenação da Missa não
possui a intenção de apresentar a fé ensinada pelo Concílio
de Trento. Mas é a esta fé que a consciência
católica está para sempre ligada. Desta forma, com a
promulgação da Nova Ordenação da Missa, a verdadeira fé
católica depara-se com a trágica necessidade de fazer
uma escolha.
Capítulo VII.
A Constituição Apostólica menciona
explicitamente as riquezas de piedade e doutrina que a
Novus Ordo supostamente toma emprestado das Igrejas
Orientais. Mas o resultado é tão distante e, de fato,
oposto às liturgias orientais que só pode deixar os fiéis
daqueles ritos revoltados e horrorizados.
O que significam estes empréstimos
ecumênicos?
Basicamente, a introdução de múltiplos textos para a Oração
Eucarística (a anafora) – nenhum dos quais se aproxima de
seus similares orientais em complexidade ou beleza –, a
permissão da comunhão sob ambas as espécies e o uso de
diáconos. Contra isto, a Nova Ordenação da Missa
parece ter deliberadamente cortado todos os elementos da
liturgia romana que mais se aproximavam dos ritos
orientais.(*53)
Ao mesmo tempo, ao abandonar seu inconfundível e imemorial
caráter romano, a Novus Ordo perde suas próprias
preciosidades espirituais. No lugar delas
estão elementos que aproximam o novo rito de certas
liturgias protestantes, e não se tratam sequer
daquelas mais próximas do catolicismo. Ao mesmo
tempo, estes novos elementos degradam a liturgia romana e
ajudam-na a se alienar do Oriente, como fizeram as reformas
que precederam a Novus Ordo.
Em compensação, a nova liturgia irá deliciar
todos aqueles grupos à beira da apostasia que agora,
durante uma crise espiritual sem precedentes, promovem
a devastação dentro da Igreja através do
envenenamento de Seu organismo e do enfraquecimento de
Sua unidade em matéria de doutrina, culto, moral e
disciplina.
Capítulo VIII
São Pio V preparou o Missal Romano
(como agora nos lembra a presente Constituição Apostólica)
como um instrumento de unidade entre os católicos.
Em conformidade com as prescrições do Concílio de Trento,
o missal deveria excluir todos os perigos tanto para o
culto litúrgico quanto para a própria fé,
então ameaçados pela revolta protestante. A grave
situação justificou plenamente – e até mesmo tornou
profética – a advertência dada pelo santo Pontífice em
1570 no fim da Bula que promulgava o seu Missal:
Quem quer tente alterar isto deve saber que incorrerá na ira
do Poderoso Deus e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo.
(*54)
Quando a Novus Ordo foi apresentada
no Gabinete de Imprensa do Vaticano, foi afirmado de
forma impudente que as condições que inspiraram os decretos
do Concílio de Trento não mais existiam. Não somente
estes decretos ainda se aplicam hoje, mas também as
condições são infinitamente piores.
Foi precisamente para repelir aquelas ciladas que em todos
os tempos ameaçam o puro Depósito da Fé,
(*55) que a Igreja, sob inspiração divina, estabeleceu
definições dogmáticas e pronunciamentos doutrinários como
suas defesas.
Estas por suas vez influenciaram imediatamente seu culto,
que se tornou o mais completo monumento à sua fé.
Tentar levar este culto de volta às práticas da antigüidade
cristã e recriar artificialmente a espontaneidade original
dos tempos antigos significa ocupar-se daquele
“arqueologismo insalubre” que Pio XII tão
categoricamente condenou. (*56)
Trata-se, além do mais, de desmantelar todas as defesas
erigidas para proteger o rito e de afastar a beleza que o
enriqueceu durante séculos.
(*57) E tudo isto em um dos mais críticos momentos –
se não o mais crítico – da história da Igreja!
Hoje, a divisão e o cisma são
oficialmente reconhecidos como existentes não somente fora
da Igreja, mas também dentro dela. (*58) A unidade da
Igreja não está apenas ameaçada, mas já foi
tragicamente comprometida. (59) Erros contra a fé
não são meramente insinuados, mas agora – como já foi
igualmente reconhecido – são impostos à força através
de abusos litúrgicos e aberrações. Abandonar
uma tradição litúrgica que por quatro séculos
manteve-se como um sinal e um compromisso da unidade de
culto, (*60) e substituí-la por outra liturgia que, devido
às inumeráveis liberalidades que ela implicitamente
autoriza, não pode ser outra coisa além de um sinal de
divisão – uma liturgia na qual fervilham
insinuações ou erros manifestos contra a
integridade da fé católica.
E nós nos sentimos no dever de consciência de declarar isto,
um erro incalculável.
Corpus Domini, 5 de junho de 1969.
ABREVIAÇÕES:
DB:
Denziger-Bannwart. "Enchrindion Symbolorum." 32ª edição.
Barcelona, Frieburg e Roma: Herder, 1957.
DOL:
"Documents on the Liturgy, 1963-1979: Conciliar, Papal, and
Curial Texts." (Documentos sobre a liturgia, 1963-1979:
Textos Conciliares, Papais e Curiais.) Traduzidos,
compilados e arranjados pelo Comitê da Língua Inglesa na
Liturgia.
Collegeville, MN: Liturgical Press, 1982.
GI:
General Instruction on the Roman Missal.
(Instrução
Geral sobre o Missal Romano) Institutio Generalis Missalis
Romani. 1ª edição, 6 de abril de 1969. Em Paulo VI, Missale
Romanum...Pauli VI Promulgatum: Ordo Missae, 12-76. 2ª
edição. Março de 1970. Traduzido em DOL 1391-1731, com as
variação entre a editio typica altera de 1975 e a 1ª edição
fornecidas nas notas de rodapé.
PTL:
"Papal Teachings: The Liturgy," (Ensinamentos Papais: A
Liturgia) selecionados e arranjados pelos Monges Beneditinos
de Solesmes, traduzido pelas Filhas de São Paulo. Boston: St.
Paul Editions, 1962.
SC:
Concílio Vaticano II. Constituição sobre a Sagrada Liturgia
Sacrosanctum Consilium, 4 de dezembro de 1963. Traduzida em
DOL 1-131.
NOTAS:
1.
"As orações de nosso cânone são encontradas no tratado De
Sacramentis (4º, 5º séculos)...Nossa Missa remonta, sem
alterações essenciais, à época em que ela se desenvolveu
pela primeira vez a partir das mais antigas liturgias
comuns. Ela ainda preserva a fragrância daquela liturgia
primitiva, nos tempos em que César governou o mundo e
esperou extinguir a fé cristã, tempos em que nossos
antepassados reuniam-se antes do amanhecer para cantar um
hino a Cristo seu Deus... Não há em toda a cristandade um
rito tão venerável como aquele do Missal Romano.” (Rev.
Adrian Fortescue). "O Cânone Romano, tal como é hoje,
remonta à São Gregório Magno. No ocidente ou no oriente não
há nenhuma oração eucarística remanescente hoje que possa
orgulhar-se de tal antigüidade. Para a Igreja Romana
descartá-lo seria o equivalente, aos olhos não somente dos
Ortodoxos, mas também dos Anglicanos e até mesmo dos
protestantes que ainda possuem algum sentido do que seja a
tradição, a negar qualquer pretensão de ser a verdadeira
Igreja Católica.” (Rev. Louis Bouyer)
2.
SC 50, DOL 50.
3.
Uma nota de rodapé na Instrução nos remete a dois textos do
Vaticano II. Mas nada nos textos justifica a nova definição,
como é evidente a partir da seguinte citação: "Através do
ministério dos bispos, Deus consagra padres... Exercendo
funções sagradas eles portanto agem como seus ministros,
exercendo continuamente na liturgia sua função sacerdotal em
nosso favor...Celebrando a Missa as pessoas oferecem
sacramentalmente o sacrifício de Cristo.” Decreto sobre o
ministério e a vida dos padres "Presbyterum Ordinis," 7 de
dezembro de 1965, Seção 5, DOL 260. "Pois na liturgia Deus
está falando com seu povo e Cristo ainda está proclamando
seu Evangelho. E o povo está respondendo a Deus tanto
através de canções quanto de orações. Além disso, as orações
dirigidas a Deus através do padre, que preside a assembléia
na pessoa de Cristo, são ditas em nome de todo o santo povo
e de todos os presentes.” SC 33, DOL 33. Está perdido quem
quer que tente explicar como a definição da Instrução pode
ter se baseada nestes textos. Notamos também como a nova
definição da Missa altera o que o Vaticano II instituiu no
Presbyterum Ordinis seção 5: "A assembléia eucarística é o
centro da congregação dos fiéis.” Uma vez que o centro na
Nova Ordenação da Missa foi fraudulentamente subtraído, a
congregação agora usurpou seu lugar.
4.
GI 7, DOL 1937 fn.
5.
GI 8, DOL 1398; GI 48, DOL 1438 fn.
GI 55.d, DOL 1445 fin; GI 56,
DOL 1446.
6.
O Concílio de Trento reafirma a Presença Real através das
seguintes palavras: “Para começar, o santo concílio ensina e
professa aberta e diretamente que no abençoado Sacramento da
Santa Eucaristia, após a consagração do pão e do vinho,
nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro homem e Deus, está
verdadeiramente, realmente e substancialmente contido nas
espécies perceptíveis do pão e do vinho.” DB 874. A sessão
22 que nos interessa diretamente em nove cânones. (DB
937a-956): 1) A Missa não é uma mera representação
simbólica, mas sim um sacrifício visível e verdadeiro,
instituído “para re-apresentar o sacrifício sangrento que
Cristo efetuou na Cruz de uma vez por todas. Era para
perpetuar sua memória até o fim do mundo. Seu força salutar
deveria ser aplicada para remissão dos pecados que cometemos
diariamente." DB 938. 2) "Declarando a si próprio como
sacerdote constituído para sempre de acordo com a ordem de
Melquisedeque, [Nosso Senhor] ofereceu seu corpo e sangue
sob as espécies do pão e do vinho a Deus Pai e deu Seu corpo
e sangue sob as mesmas espécies aos apóstolos para que estes
as recebessem, fazendo-os naquele momento sacerdotes do Novo
Testamento...Ele ordenou os apóstolos e seus sucessores no
sacerdócio para oferecer este sacrifício quando disse:
‘Fazei isto em memória de mim,’ como a Igreja Católica
sempre entendeu e ensinou.” DB 938. O celebrante,
oferecedor e sacrificador, é o padre ordenado, e não o povo
de Deus ou a assembléia: “Se alguém disser que por estas
palavras, ‘Fazei isto em memória de mim,’ Cristo não fez dos
apóstolos sacerdotes, ou que ele não estabeleceu que eles e
outros sacerdotes devem oferecer seu corpo e sangue: que ele
seja anátema” cânone 2, DB 949. O Sacrifício da Missa é um
verdadeiro sacrifício propiciatório, e não um simples
memorial do sacrifício oferecido na Cruz: “Se alguém disser
que o Sacrifício da Missa é meramente um oferecimento de
louvor e de ação de graças, ou que é um simples memorial do
sacrifício oferecido na cruz e não propiciatório, ou que ele
beneficia somente aqueles que comungam; e que ele não
deveria ser oferecido aos vivos e aos mortos, pelos pecados,
punições, satisfações e outras necessidades: que ele seja
anátema.” Cânon 3, DB 950. Também deve-se ter em mente o
cânone 6: "Se alguém disser que há erros no cânone da Missa
e que ele deva, portanto, ser eliminado: que ele seja
anátema.” DB 953. Da mesma forma o cânone 8: "Se alguém
disser que as Missas onde somente o sacerdote comunga
sacramentalmente são ilícitas e devem ser eliminadas: que
ele seja anátema.” DB 955.
7.
É talvez supérfluo lembrar que se um só dogma fosse negado,
todos os dogmas ruiriam ipso facto, à medida que o princípio
da infalibilidade do magistério supremo hierárquico, seja
conciliar ou papal, seria assim destruído.
8.
À luz da primeira oração após a consagração no Cânone Romano
(Unde et memores), a ascensão também poderia ser
acrescentada. A Unde et memores, entretanto, não trata
realidades diferentes como se fossem uma só coisa. Ela faz
uma distinção clara e precisa: “trazendo à mente...a
abençoada paixão, e também a Sua elevação dos mortos e Sua
gloriosa ascensão aos céus.
9.
Sl. 50:7-9, em Heb. 10:5.
10.
GI 54, DOL 1444.
11.
Esta mudança de ênfase ocorre nas três novas Orações
Eucarísticas, que eliminam a Recordação dos Mortos e
qualquer menção às almas sofrendo no purgatório, a quem se
aplica o sacrifício propiciatório.
12.
Veja-se Mysterium Fidei, onde o Papa Paulo VI condena os
erros do simbolismo juntamente com as novas teorias da
“transignificação e transfinalização”: “não é permissível...
enfatizar o valor simbólico do sacramento como se o
simbolismo, que certamente todos reconhecem na Eucaristia,
expressasse plena e exaustivamente o sentido da presença de
Cristo; ou discutir o mistério da transubstanciação sem
mencionar a maravilhosa alteração de toda a substância do
pão no corpo e de toda substância do vinho no sangue de
Cristo, como afirmado pelo Concílio de Trento, de maneira
que somente o que é chamado de ‘transignificação’ ou
‘transfinalização’ está envolvido.” Encíclica Mysterium
Fidei sobre a doutrina e culto da Eucaristia, 3 de setembro
de 1965, Seção 11, DOL 1155.
13.
A Mysterium Fidei denuncia e condena amplamente a introdução
de nova fórmulas ou expressões que, apesar de encontrarem-se
nos textos dos Santos Padres, dos Concílios e do Magistério
da Igreja, são utilizadas em um sentido unívoco que não está
subordinado à substância da doutrina com a qual eles formam
um todo inseparável. (v.g., "nutrição espiritual," "alimento
espiritual, bebida espiritual”, etc.): "Não somente a
integridade da fé deve ser salvaguardada, mas também o seu
modo de expressão; que nós não introduzamos falsas noções
sobre as realidade mais sublimes através do uso descuidado
de palavras.” Ele cita Santo Agostinho: “Nós, entretanto,
temos a obrigação de falar de acordo com uma norma precisa,
que a imprudência de nossas palavras não dê lugar à idéias
ímpias a respeito das próprias realidades a que estas
palavras se referem.” Ele continua: "Devemos respeitar
religiosamente a norma de terminologia; após séculos de
esforço e sob a proteção do Espírito Santo, a Igreja
estabeleceu-a e confirmou-a pela autoridade dos concílios;
esta norma freqüentemente veio a ser a divisa e o estandarte
da fé ortodoxa. Que ninguém ouse alterá-la arbitrariamente
ou sob o pretexto de novos conhecimentos...Da mesma forma
nós não devemos tolerar qualquer desejo pessoal de modificar
as fórmulas através das quais o Concílio de Trento
estabeleceu o mistério da Eucaristia para a crença. Seções
23, 24; DOL 1167-8.
14.
Contradizendo o que o Vaticano II prescreveu. (Cf. SC 48,
DOL 48).
15.
GI 54, DOL 1444.
16.
GI 54, DOL 1444.
17.
GI 241 fn. 69, DOL 1630.
18.
GI 129, DOL 1629.
19.
A Instrução reconhece a função primária do altar somente uma
vez: “No altar, o sacrifício da cruz é tornado presente sob
símbolos sacramentais.” GI 259, DOL 1649. Esta única
referência parece insuficiente para remover os equívocos
resultantes do outro termo, usado de forma mais freqüente.
20.
GI 49, DOL 1489. Cf. GI 262, DOL 1652.
21.
GI 262, DOL 1652.
22.
GI 262, DOL 1652, e GI 276, DOL 1666.
23.
"Separar o tabernáculo do altar é separar duas coisas que
por sua origem e natureza devem permanecer unidas.” Pio XII,
“Alocução ao Congresso Internacional sobre Liturgia
Pastoral” 22 de setembro de 1956, PTL 817. Ver também Pio
XII, Encíclica Mediator Dei, 20 de novembro de 1947, PTL
550, citada abaixo.
24.
Raramente o Novus Ordo usa a palavra hóstia. Nos livros
litúrgicos este termo tradicional possui um significado
preciso: “vítima.” Novamente nós nos deparamos com uma
tentativa sistemática de enfatizar somente “ceia” e
“refeição”.
25.
Seguindo a sua prática habitual de substituir uma coisa por
outra, os reformadores tornaram a presença de Cristo na
palavra proclamada igual à Presença Real. (Ver GI 7, 54; DOL
1397, 1444). Mas a presença de Cristo quando a escritura é
proclamada possui uma natureza diferente e não possui
realidade a não ser quando está acontecendo (in usu). A
Presença Real de Cristo na hóstia consagrada, por outro
lado, é objetiva, permanente e independente da recepção do
sacramento. As fórmulas: “Deus está falando a seu povo,” e
“Cristo está presente aos fiéis através de sua palavra” (GI
33, DOL 1423) são tipicamente protestantes. Estritamente
falando, elas não significam nada, uma vez que a presença de
Deus na palavra é mediata, ligada a um ato ou condição
espiritual individual, e somente temporário. Esta fórmula
conduz a um erro trágico: a conclusão, expressa ou
subentendida, que a Presença Real continua somente enquanto
o sacramento está sendo usado –recebido no momento da
comunhão, por exemplo – e que a Presença Real termina quando
o uso termina.
26.
Como a Instrução Geral a descreve, a ação sacramental teve
origem no momento em que Nosso Senhor deu aos apóstolos Seu
corpo e sangue “para comer” sob as aparências de pão e
vinho. Desta forma, a ação sacramental não mais consiste na
ação consagratória e na separação mística entre o corpo e o
sangue – a própria essência do Sacrifício Eucarístico. Ver
Mediator Dei, esp. parte II, Capítulo I, PTL 551, ff.
27.
GI 55.d, DOL 1445 fn..
28.
GI 55.d, DOL 1445.
29.
Da forma como aparecem no contexto do Novus Ordo, as
palavras da consagração poderiam ser válidas em virtude das
intenções do padre. Mas, uma vez que sua validade não advém
mais da força das próprias palavras sacramentais (ex vi
verborum) – ou mais precisamente, do significado que o
antigo rito da Missa conferia à fórmula – as palavras de
consagração no Novo Ordinário da Missa poderiam também não
ser válidas. No futuro os padres que não receberem formação
tradicional e que confiarem no Novus Ordo para a intenção de
“fazer o que a Igreja faz” farão consagrações válidas na
Missa? Pode-se duvidar disto.
30.
Que não se diga, de acordo com os métodos protestantes de
estudos bíblicos, que estas frases estão no mesmo contexto
escritural. A Igreja sempre evitou superpor e justapor os
textos, precisamente a fim de evitar confundir as diferentes
realidades que eles expressam.
31.
GI 28, DOL 1418
32.
GI 74-152, DOL 1464-1542.
33.
GI 209-231, DOL 1599-1621.
34.
GI 45, DOL 1435.
35.
Contra os Luteranos e Calvinistas que ensinam que todos os
cristãos são sacerdotes e oferecedores da Santa Ceia, ver A.
Tanquerey Synopsis Theologiae Dogmaticae, (Paris, Tournai,
Roma: Desclee, 1930), v. III: “Cada padre é, em sentido
estrito, um ministro secundário do Sacrifício da Missa. O
próprio Cristo é o ministro principal. Os fiéis oferecem
através do intermédio do padre, mas não em sentido
estrito.” Cf. Concílio de Trento, Sessão 22, Cânon 2, DB
949.
36.
GI 55, DOL 1445.
37.
GI 298, DOL 1688 fn..
38.
Observamos que está em curso uma inovação impensável, que
terá efeitos psicológicos desastrosos; o emprego de
vestimentas vermelhas na Sexta-feira Santa ao invés de
vestimentas negras (GI 308.b, DOL 1698) – como se a
Sexta-feira Santa fosse a comemoração de um mártir como
outro qualquer, ao invés do dia em que toda a Igreja veste
luto por seu Fundador. (Cf. Mediator Dei, PTL 550, citado
abaixo.)
39.
Rev. A. M. Rouget, OP, falando às Irmãs Dominicanas de
Betânia em Plessit-Chenet.
40.
GI 4, DOL 1394. Cf. Presbyterum Ordinis, Seção 13, DOL 265.
41.
GI 60, DOL 1450 fn.
42.
Ver Jn. 14:13-16, 23-24.
43.
Em algumas traduções do Cânone Romano a frase “um lugar de
repouso, luz e paz” foi traduzida como um simples estado:
“bem aventurança, luz, paz.” O que pode então ser dito do
desaparecimento de todas as referências explícitas ao
sofrimento da Igreja?
44.
Em meio a este turbilhão de omissões, somente um elemento
foi acrescentado: a menção no Confiteor a “o que eu deixei
de fazer.”
45.
Na conferência de imprensa apresentando o Novus Ordo, o Rev.
Joseph Lecuyer, CSSp, professando uma fé puramente
racionalista, discutiu a mudança das saudações do padre na
Missa sem um congregação do plural para o singular (“Ora,
irmão,” por exemplo, substitui “Orai, irmãos.”). Sua
justificativa para isto foi “que assim não haveria nada [na
Missa] que não correspondesse à verdade.”
46.
GI Seção 260, 265; DOL 1650, 1655.
47.
GI 244.C, DOL 1634.
48.
GI 70, DOL 1460, fn.
49.
Agora parece ser lícito aos padres receber a comunhão sob
ambas as espécies em uma concelebração, mesmo quando eles
são obrigados a celebrar a Missa sozinhos antes ou depois da
concelebração.
50.
Ela foi apresentada como “O Cânone de Hippolytus," mas
somente uns poucos vestígios deste texto original permanecem
no novo rito.
51.
Gottesdienst no. 9 (14 de maio de 1969).
52.
SC 116, DOL 116.
53.
Considere-se os seguintes elementos encontrados no rito
bizantino: extensas e repetidas orações penitenciais;
vestimentas rituais solenes para o celebrante e para o
diácono; a preparação da oferenda na proscomidia, em si
mesmo um rito completo; invocações repetidas, mesmo nas
orações do ofertório, à Santa Virgem e aos Santos;
invocação do coro dos anjos no Evangelho como
“concelebrantes invisíveis”, enquanto o próprio coro
identifica-se com os corais angélicos no Cherubicon; a tela
do santuário (iconostasis) separando o santuário do resto da
igreja e o clero do povo; a consagração oculta, simbolizando
o mistério divino ao qual toda a liturgia faz alusão; a
posição do padre celebrante de frente para Deus e nunca para
o povo; a comunhão sempre dada pelo celebrante; os sinais
contínuos de adoração às espécies consagradas; a atitude
essencialmente contemplativa do povo. O fato de estas
liturgias durarem mais de uma hora mesmo em suas formas
menos solenes, e de serem constantemente definidas como
“inspiradoras de reverência,
indescritivelmente...celestiais, mistérios vivificantes”,
fala por si mesmo. Finalmente, notamos como tanto na
Liturgia Divina de São João Crisóstomo quanto na liturgia de
São Basílio o conceito de “ceia” ou “banquete” aparece
claramente subordinado ao conceito de sacrifício –
exatamente como se dava na Missa Romana.
54.
Bula Quo Primum, 13 de julho de 1570. Na sessão 23 (Decreto
sobre a Santíssima Eucaristia), o Concílio de Trento
anunciou sua intenção de “erradicar completamente o joio de
cismas e erros abomináveis que nestes dias fatídicos o
inimigo semeou (ver Mat. 13:25) no ensinamento da fé sobre a
Santa Eucaristia e sobre o uso e louvor da Eucaristia. Além
deste outro propósito, nosso Salvador deixou a Eucaristia em
sua Igreja como um símbolo da unidade e amor com os quais
ele desejava unificar e unir todos os cristãos”. DB 873.
55.
"Guarda o depósito, evitando as profanas novidades de
palavras.” (1 Tim. 6:20)
56.
"Certamente o retorno em espírito e afeição às fontes da
Sagrada Liturgia foi algo sábio e louvável. Pois a pesquisa
neste campo de estudo, através da reconstituição de suas
origens, presta valiosa assistência ao trabalho de
investigação cuidadosa e minuciosa dos textos e cerimônias
sagradas utilizados naquela ocasião. Mas não é sábio nem
louvável tudo reduzir à antigüidade através de todos os
artifícios possíveis. Assim, para citar alguns exemplos,
quem desejasse restaurar o altar à sua forma original de
mesa estaria desviando-se da conduta correta; também quem
desejasse a cor negra excluída das vestes litúrgicas; quem
quisesse proibir o uso de agir imagens sacras e estátuas
nas Igrejas; quem quisesse que o crucifixo fosse desenhado
de forma a que o corpo do Divino Redentor não demonstrasse
traços de seus cruéis sofrimentos...Esta forma de agir
convida a que se reavive o antiquarismo exagerado e
desprovido de sentido que o ilegal Sínodo de Pistoia
produziu. "Mediator Dei," I.5, PTL 548, 549.
57.
"Não nos enganemos com a insinuação de que a Igreja, que se
tornou grande e majestosa pela glória de Deus como um templo
a Ele dedicado, deva ser reduzida à suas proporções
originais mais modestas, como se estas fossem as únicas
verdadeiras, as únicas boas.” Paulo VI, Encíclica Ecclesiam
Suam, 6 de agosto de 1964.
58.
"Um fermento praticamente cismático divide, subdivide, rompe
a Igreja.” Paulo VI, Homilia "In Coena Domini, 3 de abril
de 1969.
59.
"Também há entre nós aqueles “cismas” e “separações” que São
Paulo tristemente denunciou em I Corintios." Paulo VI,
ibid.
60.
É bem sabido como o Vaticano II está agora sendo repudiado
pelos mesmos homens que um dia alcançaram a glória ao
liderá-lo. Enquanto o Papa declarou ao fim do concílio que
este não havia alterado nada, estes homens saíram
determinados a “explodir” os ensinamentos conciliares no
processo de sua aplicação. Infelizmente a Santa Sé, com
inexplicável rapidez, aprovou e aparentemente encorajou
através do Consilium uma crescente infidelidade ao concílio.
Esta infidelidade foi de meras mudanças formais (Latim,
Canto Gregoriano, supressão dos ritos antigos etc.) até
mudanças substanciais que a Novus Ordo sanciona. Às
conseqüências desastrosas que tentamos apontar aqui, devemos
acrescentar aquelas que afetarão, com um efeito psicológico
ainda maior, a disciplina e os ensinamentos da Igreja
através do enfraquecimento do respeito e mansidão devidos à
Santa Sé.
www.obradoespiritosanto.com
|