
A SANTA MISSA AUMENTA EM NÓS
A DIVINA GRAÇA E A GLÓRIA CELESTE.

O Divino
Espírito Santo.
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É uso, nas cidades e nos arrabaldes, haver mercados
e feiras, onde se vendem toda a espécie de objetos úteis.
A própria Igreja, e o céu também, têm, diariamente,
um mercado. Que oferecem? A graça divina e a glória
celeste. Mas são cousas preciosas; onde achar
bastantes meios para comprá-las? Não tenhas nenhum receio
pois podem-se adquirir gratuitamente.
O profeta Isaías no-lo afirma: "Vós que não
tendes dinheiro, vinde, aproximai-vos, comprai sem troca"
(Is. 55, 1). Com efeito, o Senhor as dá sempre
gratuitamente, porém, raras vezes, com tanta abundância como
na santa Missa, o que provaremos neste capítulo.
Em primeiro lugar, porém, devemos compreender bem o
que é a graça.
A
graça é um dom, um socorro sobrenatural que Deus nos concede
em virtude dos méritos de Jesus Cristo. Distinguem-se duas
espécies de graça: a "santificante" e a "atual".
A graça "santificante" é um estado de
alma que nos torna justos aos olhos de Deus e nos dá o
direito de herdar os bens eternos. Esta graça, elevando-nos
acima da nossa própria natureza, nos torna participantes da
natureza divina. Segundo o Concílio de Trento, não é somente
"a remissão de nossos pecados com favor sensível da
bondade de Deus", porém "um estado divino, uma
luz brilhante, que nos embeleza a alma", a qual
permanece neste feliz estado até que percamos a graça pelo
pecado mortal.
A graça "atual" é um socorro
passageiro, pelo qual Deus ilumina-nos o entendimento e
comove-nos a vontade, para evitar o mal e fazer o bem. Se
nossa alma está morta, a graça atual ajuda a recuperar a
graça santificante; se, pelo contrário, está na amizade de
Deus, a graça atual, ajudando-nos a fazer boas obras,
aumenta, de mais a mais, esta amizade divina.
São Tomás de Aquino ensina que "a graça
concedida a uma alma vale mais que o mundo inteiro e tudo
quanto encerra". O próprio céu com o seu esplendor
não lhe pode ser comparado.
Grandiosos são os efeitos da graça de Deus:
reveste, em primeiro lugar, a alma de uma beleza sem igual.
Comparando com este esplendor o sol, as estrelas, as flores,
parecem embaciadas, descoradas, sem encantos. Se te fosse
dado ver uma alma em estado de graça, tudo o que então
tivesse algum brilho para ti, aparecer-te-ia, depois, sem
encanto, segundo a palavra do Bem-aventurado Blósio:
"Se a beleza de uma alma em estado de graça pudesse ser
contemplada, ficaríamos arrebatados".
Em segundo lugar, a graça é o laço da caridade
entre Deus e o homem. Por ela o Criador e a criatura
tornam-se, um para a outra, ternos e confiantes amigos,
segundo a palavra de Jesus Cristo: "Não vos chamarei
mais servos, e, sim, amigos" (Jo. 15, 15).
Ora, que há de maior, de mais excelente do que ser
chamado amigo de Jesus Cristo e sê-lo realmente? Esta
dignidade ultrapassa a natureza humana, porque tudo serve ao
Senhor e nada existe que não esteja sob seu domínio. É por
isso que Deus eleva os servos a uma dignidade sobrenatural,
chamando-os seus amigos e tratando-os como tais. E quando,
por nossa infelicidade, pelo pecado, quebramos o laço desta
terna amizade, Deus não se afasta inteiramente, fica
esperando à porta de nossa alma, bate docemente e pede para
entrar: "Eis que estou à porta e bato: se alguém me
ouvir a voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e
cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20).
Enfim, terceiro, a alma santificada é de tal modo
enobrecida, que se torna a própria filha de Deus. Que honra
para o filho de um mendigo ser adotado por um príncipe! Que
honra infinitamente maior sê-lo pelo soberano Senhor!
A este pensamento São João exclama como em êxtase:
"Considerai, o amor que nos mostrou o Pai foi tal que
chegamos a ser chamados filhos de Deus e o somos" (I
Jo. 3, 1). E São Paulo acrescenta: "Se somos filhos,
também somos herdeiros, verdadeiramente, herdeiros de Deus,
e coerdeiros de Cristo" (Rom. 8, 17).
Ser herdeiro de Deus! que sorte, que glória! Nada
poderia fazer-nos melhor compreender a excelência da graça
desta adoção divina, que é, ao mesmo tempo, a prova
manifesta do amor infinito de Deus por suas pobres
criaturas.
Ora, esta graça santificante é, sem cessar,
aumentada pela nossa correspondência à graça atual, pela
qual Deus orna a alma de virtudes, de piedade, cumula-a de
consolações, inspira-lhe santos desejos, concede-lhe a
alegria espiritual, protege-a, fortifica-a, governa-a,
une-se-lhe, enfim estreitamente e lhe dá tudo o que
contribui para a vida e a piedade.
Estas explicações ensinar-te-ão a conhecer o valor
infinito da graça.
Agora
provaremos, até a evidência, primeiro, que a santa
Missa aumenta poderosamente a graça, depois, que nos aumenta
a glória futura, e finalmente, insistiremos sobre a
Comunhão espiritual como sobre uma parte da santa Missa
muito própria para enriquecer-nos a alma de novas graças.
Um piedoso autor dizia: "Não somente o sacerdote,
mas também os que mandam dizer a Missa ou a assistem, podem,
conforme sua piedade, merecer um acréscimo de graça ou de
glória, e este benefício lhe é abonado em virtude de sua
cooperação ao santo Sacrifício.
O sacerdote é o primeiro beneficiado; os que
mandam dizer a Missa, por si ou por outrem, tiram igualmente
os preciosos frutos e um aumento de graças, se estão na
amizade de Deus. Finalmente, os assistentes têm
parte, não somente pela devoção para com o santo Sacrifício,
como também em recompensa das virtudes múltiplas que
exercem; assistindo-a, renovam, no coração, a dor de haver
pecado, cada vez que batem no peito; exercem a fé,
reconhecendo a presença real de Jesus na santa Hóstia e sua
imolação pelos pecados dos homens. Esta crença é o
fundamento de nossa salvação. Além da fé, produzem ainda
atos de adoração interior e, se bem que estes sentimentos
sejam devidos a Nosso Senhor, contudo nosso bom Mestre não
os julga menos agradáveis e neles se compraz
particularmente.
Se, na elevação da Hóstia e do Cálice, ofereces
este dom divino ao Pai eterno, fazes um ato de grande
merecimento e, se oras pelos vivos e pelos mortos,
acrescentas um ato de caridade; finalmente, se participas do
Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, ao menos pela Comunhão
espiritual, mereces graças particulares.
Além disso, por causa do desprezo dos hereges pelo
divino Sacrifício do Altar que consideram
idolatria, Deus olha, amorosamente, para os que reparam
estes insultos por sua piedosa assistência. Os Santos Padres
falam, freqüentemente, nas recompensas especiais, concedidas
a este ato de reparação.
São Cirilo diz: "Os dons espirituais serão,
abundantemente, distribuídos aos que assistirem à santa
Missa". São Cipriano nota por sua vez: "O pão
sobrenatural e o cálice consagrado contribuem para a vida e
a salvação do homem". Também o Papa Inocêncio III
afirma: "Pela eficácia do santo Sacrifício, todas as
virtudes nos são aumentadas e os frutos da graça nos são
profusamente distribuídos". São Máximo, exorta aos
cristãos "a não desprezarem a santa Missa, porque as
graças do Espírito Santo nela são comunicadas aos
assistentes".
Citamos ainda o testemunho de Osório: "Deus
Padre vos dá, na santa Missa, seu Filho único, em quem
reside, unida à humanidade, a plenitude da divindade e onde
se acham ocultos todos os tesouros da sabedoria. Dando-nos
seu Filho, dá-nos tudo".
Sim, dá-nos Jesus com seus méritos, suas
satisfações, seu corpo e sua alma. Que poderia dar mais? E
que meio mais cômodo poderia inventar, para permitir-nos
participar destes tesouros infinitos? Certamente, se tua
alma está na indigência, deves, unicamente, ao teu
imperdoável torpor, à tua preguiça espiritual.
Oh delicioso e incompreensível dom da glória
celeste para a qual fomos criados e pela qual nosso coração
suspira ardentemente! Como poderemos tratar de aumentá-la,
visto que o Apóstolo exclama: "Os olhos não viram, nem
o ouvido, nem jamais veio à mente do homem, o que Deus
preparou para aqueles que o amam!" (Cor. 2, 9). A
santa Igreja ensina, é verdade, que as boas obras aumentam a
graça e a glória futura, porém não indica o grau desta
glória.
Contentemo-nos, pois, com as palavras de Nosso
Senhor a Santa Gertrudes: "O cristão aumenta os
méritos para a vida eterna cada vez que assiste,
devotamente, à santa Missa". É desta recompensa
eterna que o Evangelho diz: "Derramar-vos-ão, no seio, uma
boa medida, bem cheia e recalcada e transbordante". (Lc. 6,
38).
Efetivamente, na Missa merecemos um novo grau de
glória. O santo Sacrifício é como uma escada celeste:
cada vez que o fiel assiste, sobe um degrau e torna-se mais
belo, mais resplandecente, mais glorioso, mais estimável aos
olhos de Deus e dos Santos. Cada vez que assistes à
Missa, o céu o registra e te assegura um grau de glória mais
elevado. Esta glória pode ser roubada pelo pecado mortal,
mas, pela extrema bondade de Deus, ela te será restituída
após uma humilde confissão. Que glória, que riqueza, que
felicidade te esperam lá em cima, se todos os dias
assistires ao santo Sacrifício!
"Aquilo que de tribulação nos vem no presente,
momentâneo e leve, produz em nós, de modo incomparável e
maravilhoso, um peso eterno de glória". Grava, cristão,
estas palavras no coração, e convence-te de que, se o
Apóstolo promete tão bela recompensa aos sofrimentos
momentâneos, Deus reserva graças muito mais insignes aos
fiéis que assistem à santa Missa, porque a esta prática
ligam-se uma multidão de pequenas mortificações, e bem as
conheces.
A igreja acha-se afastada de tua casa; é necessário
levantar-se mais cedo; o caminho é mau e perigoso no
inverno, o vento frio sopra-te no rosto; no verão, o sol
dardeja sobre ti os ardentes raios; depois, o ofício é,
algumas vezes longo, o fervor desaparece, um trabalho
urgente te espera, um lucro te escapa. Mas, coragem!
Na santa Missa, há tantos títulos de glória, tantos tesouros
para o céu!
Depois de haver declarado ser o desejo da santa
Igreja que todos os fiéis fizessem a santa Comunhão na Missa
que assistem, o santo Concílio de Trento recomenda,
instantemente, aos que se reconhecem indignos da recepção da
Eucaristia, fazer, pelo menos, a Comunhão espiritual
que consiste no ardente desejo de receber Jesus Cristo.
Esta prática não seria tão recomendada, se não fosse
proveitosíssima às nossas almas e um dos principais meios de
aumentar-nos a graça divina e a glória celeste.
Quando Jesus Cristo estava na terra, fez muitas
curas pela imposição das mãos; a muitos, porém, restituiu a
saúde de longe, sem estar presente, como, por exemplo, à
filha da Cananéia e ao servo do centurião. A infinita
generosidade de Nosso Senhor não se limita às almas que se
aproximam dignamente de seu Sacramento de amor, estende-se
também as que não podem recebê-lo sacramentalmente. Não diz
ele: "Eu sou o pão da vida; o que vem a mim não terá
mais fome, e o que crê em mim, não terá mais sede"?
Ir a
Jesus é crer nele e amá-lo. Quem for a ele deste modo será
saciado. Jesus Cristo não ligou sua graça à santa Comunhão,
de forma que não possa concedê-la sem a recepção do
Sacramento. Uma Comunhão espiritual, feita com ardentes
desejos, produz-nos mais graças que uma Comunhão sacramental
feita sem fervor. A intensidade de nossos desejos é a
medida da graça que nos vem pela Comunhão espiritual.
Mas, como fazer para bem comungar espiritualmente?
O sábio Fornero, bispo de Hebron, no-lo ensina: "Todos
os que ouvem a santa Missa com boas disposições, são
nutridos, de maneira mística, com o corpo de Jesus Cristo. A
virtude da santa Missa é tão grande que basta unir-se
espiritualmente ao sacerdote, para participar com ele do
fruto do Sacrifício" (Sermão 83). - Esta doutrina é
muito consoladora, para os que desejam fazer a Comunhão
espiritual e não sabem fazê-la. Basta dizer: Uno minha
intenção com a do sacerdote, e desejo, comungando com ele,
participar do santo Sacrifício.
"Assim como os nossos membros que não comem,
acrescenta o bispo de Hebron, nutrem-se tão bem como a boca,
da mesma maneira, os que assistem à santa Missa nutrem-se,
espiritualmente, por intermédio do sacerdote, sem comungar
realmente. Também é justo que o que está em espírito com o
celebrante à mesa do Senhor, seja nutrido em espírito com
ele. Se os convidados de um rei não saem com fome da sala do
festim, como nosso divino Salvador deixaria ir embora, sem
ficarem saciados, os que vieram adorá-lo na santa Missa!"
A santa Missa; a grande ceia do Senhor; aí, cada um
recebe sua parte a não ser que feche, obstinadamente, a boca
de sua alma diante da mão de Jesus Cristo, que lhe oferece o
Corpo em alimento.
A Comunhão espiritual é, portanto, santa e
salutar. A santa Igreja diz expressamente:
"Aqueles que, pelo desejo, comem deste pão celeste,
sentem-lhe o fruto e a utilidade, em virtude da fé viva que
a caridade torna fecunda" (Conc. de Trento, sessão
13).
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